15 de outubro de 2007

Artigo: "Desejo do Desejo"

Estive refletindo, um dia desses, sobre a questão do desejo. Quero mostrar a partir desse texto a nossa tendência a confundirmos desejo com vontade. Acredito que resumimos nossa existência tendo vontades, ao invés de sermos o próprio desejo de vida.

Tenho vontade de dormir? Ou desejo dormir? Tenho vontade de comer, ou desejo comer? Tenho vontade de viver ou desejo viver? Perguntas simples que para a maioria de nós pode ser respondida de qualquer uma das maneiras. Sugiro um olhar mais profundo sobre o que pode significar tais palavras. Vontade parece se confundir com desejo até nos dicionários (pesquisei no Aurélio, no Priberan e em alguns dicionários eletrônicos). Estes tratam do desejo como vontade e vice-versa.

Eu tenho vontades que me instigam a possuir. Essa vontade parece ser um motor que me motiva a buscar o que quero. Vontade é apetite...

Vontade: temos de possuir um livro, um computador, um celular... Vontades que nos colocam em conexão com os objetos que queremos. Eu quero estar na praia, deitado na areia, olhando para lua no mais puro silêncio da noite... Esse pensamento me une a essa imagem que vem a sua e a minha mente, neste momento, e minha vontade me faz sentir, de uma maneira bem pessoal, o toque da lua, o borbulhar do mar, o toque da areia... Isso é o que acredito ser vontade... É conexão, é fome de... É sede de...

Desejo, por sua vez, significa ausência. Desejo é falta sentida. Nós mesmos somos desejo, somos ausência. Só desejamos algo que não temos, não é assim? Se desejamos algo é porque temos vontade de possuí-lo. As vontades nos unem, representativamente, às coisas, enquanto que o
desejo faz com que as coisas que queremos se tornem NÓS MESMOS...

Ih... Parece confuso... Vamos lá...

Somos desejo... Somos um vulcão de desejos... Nossa vida é puro desejar... Pense nos seus desejos... São tantos e tantos que se confundem com o que você é... Tornamos-nos desejo da vida no momento em que os desejos se tornam parte fundamental de nós. Temos desejo de
vida, de felicidade, de paz... Temos desejo de eternidade e existimos desejando... Desejando a felicidade, o dia de alcançarmos o sagrado, de chegarmos às moradas do céu... Temos saudades de Deus... É esse desejo que nos impele a sermos cristãos, é esse desejo, que chamamos várias
vezes de amor, que nos impulsiona a darmos nossa vida por algo ou alguém, de mudar de vida, de compor canções, de escrever livros, Os desejos estão ausentes, mas a sua ausência é o determinante da minha existência sedenta...

TEMOS DESEJO DO DESEJO!

DEUS TEM DESEJO! Desejo do ser humano, nós, somos desejo de Deus; desejo do infinito; somos desejo de Deus, somos uma ausência presente de Deus... Buscamos uma presença ausente de nós mesmos... Deus deseja a nossa presença presente... É isso que nos dá sentido de continuar... A certeza de um dia nos encontrarmos face a face com esse Deus que nos deseja!

Somos um vulcão em erupção... Somos puro palpitar de desejos, do momento do acordar, ao momento do dormir, somos desejo até dormindo... Desejos que desenham nosso ser no mundo, na história, no tempo, no espaço...

Pergunto... Que estamos fazendo dos nossos desejos? Que tipo de desejos estamos "sendo"? Contentamo-nos com vontades que nos configuram, a pedaços, ou desejamos a plenitude de ser humano? Desejo de sermos, ou vontade de termos?

Desejemos... Sejamos...

Michael Douglas de Almeida Nunes
Aspirante dehoniano e estudante de filosofia - Paulista-PE

Nenhum comentário: